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Conhece o upcycling? Saiba como essa tendência está mudando o consumo – e o mercado da moda

Em novembro de 2020, quando o site de compra e venda de produtos de segunda mão Enjoei passou a vender suas ações na Bolsa de valores, uma tendência que vinha se desenhando havia virado realidade: o reaproveitamento de sobras e a valorização de produtos usados. À época, o valor de mercado do site chegou aos R$ 2 bilhões.

Junto, ganhou popularidade o upcycling (termo em inglês que mescla upgrade, ou atualização, com reciclagem). É verdade que a palavra tem uma definição mais ou menos elástica, mas, a grosso modo, se refere ao reaproveitamento de materiais e itens que seriam descartados, principalmente para a criação de produtos de maior valor agregado.

Saem processos industriais como a criação de papel reciclado ou a produção de garrafas plásticas, e entram o trabalho criativo e um toque de artesão: na maior parte das vezes, a ideia é manter algo da aparência ou finalidade original.

Abstrato demais? Pense no reaproveitamento de peças de um utensílio doméstico para criar móveis, ou bicicletas se transformando em mobília. (Veremos mais exemplos um pouco mais adiante).

O fato é que o upcycling está em toda parte, e nem é tão novo. Basta pensar nas roupas e acessórios feitos com sobras de tecido em quadradinhos, como o tradicional patchwork.

A diferença é que agora grandes marcas e grifes internacionais adotaram a prática — e com isso, influenciam comportamento e consumo. O upcycling foi tema recente da revista Vogue, já foi adotado pela grife Valentino, e também tem ajudado famílias a poupar dinheiro em meio ao aumento do custo de vida em todo o mundo.

No Brasil também é assim. Virou franquia, por exemplo, o negócio da Cresci e Perdi, que surgiu em 2014 com a ideia de comprar e vender artigos infantis, roupas que passam pouco tempo no armário – principalmente de crianças pequenas – e que podem ser repassadas quase novas. A marca virou uma franquia que, em 2022, já tinha quase 200 unidades.

Outro apelo positivo é o fato de que, ao dispensar a necessidade de reprocessamento dos materiais, economiza-se energia, o que impacta positivamente o meio ambiente. Não é para menos: de acordo com a ONU, a indústria da moda é responsável por 10% de todas as emissões de gases do efeito estufa.

Agora, a ideia é que diversos tipos de negócios se apropriem desse conceito – e de suas variações – para estimular um consumo mais consciente. Trata-se de uma relação de ganha-ganha, pois a depender do modelo de negócio, os clientes obtêm produtos de qualidade a preços menores, e as marcas ganham visibilidade positiva e aumentam o fluxo de caixa.

Naturalmente, no caso de uma grife como a Valentino, a questão do preço é menos relevante, mas não o desperdício. A marca está apoiando um novo projeto de upcycling com uma varejista francesa, a Tissu Market, que promove a reutilização criativa e sustentável dos tecidos parados no estoque da grife.

A Tissu Market vende tecido por metro. Assim, materiais como chiffon, tafetá, cetim, entre outros, que estavam parados no estoque da Valentino, voltaram a ser trabalhados por costureiros e estilistas.

No Brasil, grifes como a Ventana também adotam o conceito de upcycling para criar vestuário com base no reaproveitamento de materiais e sobras de tecidos.

E por falar em reaproveitar, também vale mencionar a plataforma de patinetes elétricos Bolt. Recentemente, em uma parceria inusitada, criou um projeto com um designer de joias, Tanel Veenre. A ideia é transformar peças de modelos antigos dos patinetes em brincos, pulseiras e pingentes. O material usado é um alumínio de qualidade aeronáutica, o que garante um apelo de força e resistência.

Mas, claro, sempre que pensamos em atitudes sustentáveis e marcas, é sempre bom lembrarmos do greenwashing.

Como já comentamos em nosso hub de conteúdo, é necessário que as mudanças sejam reais, e que caminhem para além do discurso. O discurso, e o marketing, quando não são traduzidos em práticas efetivas, podem causar danos na reputação da companhia. E a sua reputação, assim como os produtos que as marcas desejam vender, deve durar tanto quanto uma boa peça reaproveitada.

Talvez você não tenha um estoque de alta costura, nem patinetes no armazém da empresa, mas já parou para pensar em quais itens do seu negócio podem ser utilizados de outra maneira, ou se é possível criar uma parceria com uma outra marca?

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